Por alguma destas artes do destino eu tive que me envolver profissionalmente com o estudo da estatística, indo um pouquinho além daquilo que normalmente é ensinado sobre este assunto - tipicamente em um único semestre - nos cursos de engenharia (elétrica, no meu caso). Então acho que posso "dar pitaco" sobre a confiabilidade - ou falta dela - dos resultados das pesquisas de intenção de voto publicados até agora.
Acredito piamente que é perfeitamente possível, dentro de um limite de confiabilidade diretamente associado com a metodologia empregada na pesquisa, aferir a opinião do eleitorado. Mas também acredito piamente que o comportamento normal dos processos (industriais, econômicos, sociais, ou o que seja) é a variação, e não a falta dela.
O que você diria se eu lhe contasse a seguinte história: quatro pedreiros foram escolhidos ao acaso e a cada um deles foi dada a tarefa de construir um muro com as mesmas dimensões (altura, largura e espessura). Ao final da tarefa, ao comparar os resultados obtidos, descobrimos que todos os quatro construíram muros cujas dimensões, além das quantidades de material utilizadas (cimento, areia, tijolos, água, etc.) e do tempo de execução da tarefa, todos apresentam uma variação de apenas 1% entre o maior e o menor valor de cada item. Não sei a opinião de vocês, mas eu acharia muito estranha essa coincidência toda.
Pois eu vejo situação semelhante ocorrendo nos resultados ds pesquisas de intenção de voto publicados até agora. Vamos usar, a título de exemplo, as pesquisas relativas a intenções de voto no 2° turno da eleição para Presidente da República. Apesar de utilizarem metodologias diferentes para seleção da amostra da população de eleitores a entrevistar, bem como usarem formas diferentes de realizar as entrevistas, todos apresentam resultados muito próximos uns dos outros.
Se isso não fosse suficiente, quando os resultados são apresentados na forma de série temporal das pesquisas realizadas por cada instituto, observa-se que a variação entre pesquisas consecutivas quase sempre encontra-se dentro da "margem de erro" (que nunca é devidamente explicada ao eleitorado leigo). Mas este fato trivial - a variabilidade de cada processo - é apresentada grandiosamente na imprensa como configurando "tendências" de comportamento do eleitorado. Ridículo!
E, adicionando a injúria ao insulto à inteligência de quem tenha pelo menos dois neurônios funcionando de forma coerente, esta variabilidade limitada dos resultados ao longo do tempo teria que ser interpretada como se o eleitorado já estivesse com sua opinião perfeitamente definida, e que os fatos da campanha não tem causado nenhum efeito perceptível. Não acho isso muito razoável.
Resumindo, estes números são, para mim, prova de que existe algo de podre no reino da Dinamarca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário